23/07/2008

Raio X da Abstinência

O tempo é um trem bala que segue seu percurso a 300 por hora sem parar nas estações. Estou na véspera de completar quatro meses sem fumar.
Honestamente, não sei se comemoro ou se choro...

Tenho alguns motivos para comemorar. Agora consigo subir escadas como uma pessoa normal, sem rastejar a partir do 10º degrau e sem morrer no último; meu rosto que antes era seco agora tem uma oleosidade equilibrada e me deixa com aparência mais viçosa; descobri que minhas unhas não são amareladas, aquele tom era proporcionado pela nicotina; minha filha fala que parei de fumar por que a amo (só isso compensa tudo que ainda não notei).

Mas tudo tem o outro lado, e o meu é negro como um blackout a meia noite. Sinto ainda o gosto ou às vezes a falta dele na boca, ainda salivo (não com tanta freqüência) ao ver amigos fumando descaradamente na minha frente, soltando aquela longa fumaça cinzenta como se estivessem me provocando, a espera de uma fragilidade minha e um pedido miserável por uma tragada.

É impressionante como o sadismo humano é mais forte do que valores mais nobres... Mas ainda (e espero que sempre) sou forte. Acho até que meu amor próprio e teimosia me ajudam mais do que a força nessas horas.

Não fiquei quatro meses lutando para caminhar sozinha à toa. Não é agora que vou jogar a toalha. (Será?) Digo isso por que nada é definitivo na vida, e tenho um antecedente de dois anos sem fumar antes da última recaída... Não!!!! Sai pra lá diabinho!!! Agora é pra valer! Já não sou mais uma adolescente que tem a sorte de poder se renovar rapidamente, sou uma balzaquiana em direção da idade da loba...(medooooo!!!!!) E isso significa que não tenho mais o mesmo metabolismo ultra-mega-super-power-rápido para regenerar meu corpinho das bobagens que faço.

Bom, de qualquer forma, saibam que parar de fumar não é fácil.
Aliás, não é NADA fácil, diria até QUASE IMPOSSÍVEL...
Por que? Pelo óbvio.

Como serei daqui pra frente tendo que me mostrar nua e crua sem minha máscara esfumacenta que protegia e disfarçava minha timidez (e por que não dizer meu verdadeiro pavor) ao encarar um grupo cuja maioria das pessoas me são completamente desconhecidas? Sem o cigarro que disfarçava a ansiedade, ela se manifesta numa compulsiva oratória desenfreada (odeio isso e me sinto uma matraca idiota).

Como lidar com meus momentos de solidão (que são muitos pode crer), tristeza, ostracismo sem o caninho de papel que me ajudava e que era fundamental na minha organização mental?
Não posso esquecer meus momentos de estress também, nesses eu praticamente comia o meu Valium de papel...
Como desvencilhar, resistir e conviver com a imagem indissolúvel da dobradinha cerveja + cigarro sem sucumbir, pois para mim é tão perfeito quanto Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Gordo e Magro...
Como conseguir provar aos outros que minha decisão é legítima e que qualquer manifestação de sabotagem aos meus propósitos vinda dos outros me faz travar uma verdadeira guerra civil nos territórios internos do meu corpo?

Essa é a verdade, em preto e branco dessa ex-fumante que vos fala... Não é fácil como possa parecer, não sou uma encarnação do Dalai Lama nem tão pouco tenho pré disposição ou tendência para o zen, mesmo morando no epicentro do xintoísmo e de todos os ismos que aparecerem.

Ainda tenho muitas fraquezas, fumar traz sofrimento, deixar de fumar mais ainda. Ontem mesmo quase sucumbi ao desejo de fumar (gente a culpa não é minha! É dos enésimos elementos químicos do cigarro que ainda habitam minhas entranhas...) mas voilé!!! Resisti.

E assim vou vivendo como uma rehab a la Amy Winehouse às avessas, dizendo No! No! No! só por hoje não vou fumar mas que Go! Go! Go! achar uma nova muleta (dessa vez saudável) para disfarçar minha timidez e inseguranças.

Um comentário:

  1. Que lindo ! Também estou sem fumar a 4 meses de pois de fumar por 15 anos, parar por 3anos e retornar. Agora será pra valer.

    ResponderExcluir

Que bom te ver por aqui! Que tal me deixar feliz com um recado teu?