11/04/2008

Outros Olhares

No fundo o que todo mundo quer é ser feliz. E não adianta negar isso. Eu quero, tu queres, todos querem. Mesmo a pessoa mais fechada e carrancuda procura a felicidade. O que difere entre os seres é a maneira de procurar e a interpretação do significado desse estado de espírito.
Para uns ser feliz é ter estabilidade, bom emprego, carro novo e casa confortável. Para outros, para ser feliz basta ter saúde. E para um outro grupo minoritário de pessoas, a chave da felicidade está nas pequenas coisas. Eu me incluo nesse grupo.
Claro que dinheiro é muito bom e eu também gosto, além de proporcionar momentos de felicidade que nem todos podem comprar; e óbvio que ter saúde é maravilhoso e traz muita felicidade também... Mas é possível ser feliz sem muito dinheiro e sem muita saúde... basta se ater nas pequenas coisas...
Sei muito bem o que digo, pois já fui infeliz com grana no bolso, como também já tive muitos momentos de felicidade quando a saúde não era minha melhor companheira. E foi justamente nessa época que aprendi a ser feliz com... as pequenas coisas.
Quando se passa por uma dificuldade muito maior que nossa capacidade de resolução, há que se aprender a ligar o piloto automático e conduzir as coisas da melhor maneira possível.
E foi o que aprendi quando tive que tirar férias de um mês em um hospital por que parte do meu corpinho entrou em greve e não respondia aos comandos do meu cérebro.
O que fazer? Chorar? Não adianta, só incha a cara e eu fico horrível depois de uma crise de choro... Espernear? Não... Isso não dava por que as pernas não me obedeciam... Lamentar e ficar dizendo por que eu? Definitivamente, todos aqui já sabem, odeio dramas... é mais fácil eu dizer mas por que não eu, isso deve ter um propósito...
E assim conduzi meus dias desde minha primeira noite naquele hotél improvisado em que me instalei; com bom humor, medo, paciência e tentando acalmar os parentes e amigos, esses sim em desespero.
Nesse tempo, dei valor aos meus cabelos, quando via tufos inteiros indo embora no travesseiro ou na escova; redescobri como é bom ler ou ouvir um livro ser lido; me apaixonei por croissants, que eram levados religiosamente todas as tardes por uma tia atenciosa; percebi como é bom poder levantar e dar uma caminhada seja pra onde for que as pernas nos levarem; descobri os prazeres de uma boa música; de conversar com pessoas mais velhas, me lembro com saudades da Nadir, minha enfermeira favorita e de Sônia, senhora de quase 70 anos com alma e aparência juvenil que me rendia boas risadas e infinitas conversas sobre tudo, afinal tínhamos tempo de sobra. Aprendi que mesmo sem falar direito, meus olhos falavam por mim.
As pequenas coisas passaram a ter importância em tudo na minha vida depois daquele mês de abril. Me emociono e dou valor a detalhes que para a maioria passa batido.
Minha sensibilidade ficou aflorada para o imperceptível do dia a dia e mais dura para o excesso de autopiedade. Não consigo ter compaixão para dramas fúteis e caprichos pessoais, já tentei mas não dá, começo a dar risada. Posso parecer até meio insensível, mas depois de tudo que passei, não tá em mim.
Pessoas que lutam e vencem doenças ditas graves e depois disso conseguem viver com dignidade, sem artíficios ou auxílio de qualquer outra coisa que não seja seu próprio corpo, tornam-se fortes e resistentes às armadilhas caprichosas que outros possam usar para conseguir atenção e privilégios.
Mas a felicidade extraída das pequenas coisas não se consegue somente passando por um momento extremo. Pode-se conseguir com o exercício da sensibilidade, com a valorização do belo no simples, com a percepção aos presentes de Deus, como a natureza e a vida.
Viver é um ensinamento constante, apendemos todos os dias com tudo que nos acontece. Experimente ser feliz por uma coisa simples. Deixe a pureza de um olhar infantil te tocar, a delicadeza de uma flor te emocionar, olhe o céu azul e sua infinidade e inspire-se com ele. Duvido que não sintas um pinguinho de paz e de uma coisinha boa crescendo dentro do peito depois disso!
Se sentires vergonha, não conte pra ninguém, esse momento é somente seu. Mas exercite isso, tenho certeza que te fará bem, que te tornará uma pessoa melhor. Eu mesma levei anos para dividir isso com alguém, pois me achava ridícula por tais pensamentos. Hoje vejo que ridículo é ter vergonha de sentir-se feliz por quase nada, por tão pouco.
Mas por que tudo isso? Todas essas palavras?
Por que essa semana faz 12 anos que saí daquele hospital e aprendi que a felicidade está na simplicidade. E que o óbvio é o mais difícil de enxergar.

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