03/04/2008

Entre Espelho e Tabaco I

Estou chegando ao décimo dia sem fumar. E o mais importante desse tempo, sem nenhuma tentativa de me ludibriar.
Sim, por que invariavelmente, toda vez que tentei parar de fumar, além da irritação descabida, da tremedeira e do excesso de salivação, a sabotagem fazia parte do pacote promocional de abstinência.
A coisa era tão descarada, que mantinha escondido um maço de cigarros para os momentos de desespero total.
É horrível admitir, mas eu era uma farsante. Uma demagoga que a cada tentativa de parar com o tabaco, fazia apologia a vida saudável mas sequer conseguia se livrar das tragadas escondidas, afinal de contas, era a melhor parte do dia.
Hoje me pergunto; quem eu tentava enganar?
Já não sou uma adolescente que precisava esconder os cigarros da mãe nos bolsos dos casacos para evitar um interminável bate bocas, há décadas que não preciso dar satisfação de forma obrigatória pra ninguém, então, por que e pra que?
O tempo passou, apesar da culpa e da terrível e velada sensação de fracasso voltei a fumar de novo mas nunca admiti meu segredinho sujo pra ninguém. O faço agora, como uma lavagem de roupa suja atrasada.
Passado um ano da última e frustada tentativa de largar meu vício prazeroso, e de maneira totalmente inversa às anteriores, paro de fumar sem nenhum subterfúgio ou plano B.
Fui fumante por 20 anos e nesse meio tempo, tive apenas duas ou três paradinhas entre as voluntárias e obrigatórias, mas sempre pensando no próximo cigarro e nunca me desfazendo do arsenal de isqueiros e cinzeiros que possuía.
Afinal, nunca se sabe quando vamos precisar desesperadamente e iremos sucumbir a uma tragada... no meu caso, era no máximo uma semana.
Mas a gente envelhece ou melhor, amadurece e outras coisas acabam pesando mais na balança.
Seria mentira se eu dissesse que foi principalmente por causa da saúde, do preço do cigarro, ta ta ta ta ta ta que parei de fumar. Isso pra mim é balela. Parei por vaidade.
Isso mesmo, enquanto todos me torravam a paciência com frases: "Para de fumar, olha a tua saúde!" ou "Pelos teus filhos, para de fumar!" Eu sequer me comovia ou melhor, ouvia. Culpa da minha insensibilidade para lugares comuns e melodramas baratos.
Mas foi alguém me dizer "Tu tens que parar de fumar, o cigarro tira um pouco do teu charme" que o recado caiu sobre mim como a bomba em Nagasaki, foi um verdadeiro boom.
Como assim? Meu charme vai embora? Viro um ser qualquer, sem it nenhum?? Para tudo agooooraa!!!!
Já passei da idade do corpinho sarado, de parar o trânsito e dos áureos tempos em que se colocasse até um saco de linhagem no corpo ficava bonita. Estou na fase em que a beleza é mais madura e pode levar horas pra ficar apresentável, mais intelectual do que carnal, mas charme do que bunda empinada. E se esse tal de charme for embora a cada fumaça liberada pelos meus cigarros, o que será de mim?
Definitivamente, não estava preparada para um baque desses. Pensei muito *por uma semana, diga-se de passagem, e resolvi largar de vez meu amante tabagístico.
Dizem que o orgulho só não é maior que o amor próprio em uma mulher, pois eu digo que nada é maior que os brios femininos.

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