15/03/2008

Crônica do Amor Suspenso II

Era uma tarde como outra qualquer, sob um calor escaldante típico do verão espanhol, pessoas andavam apressadas atrás de suas rotinas, carros buzinando na busca incessante de alguns míseros minutos de vantagem contra o tempo, o barulho inconfundível da cidade que não para.
Na contra mão disso tudo, Juan e Estela juntos, em um simpático quarto, cuja decoração e a cor eram tão quentes e vibrantes quanto o calor que fazia lá fora.
Nada mais lhes importava; apenas aquele momento tão esperado e oprimido pelos anos. Um momento raro de intimidade onde a sublimação das emoções transcendeu a razão, a lógica e a coerência de suas vidas.
Entre abraços repletos de afeto, os beijos sonhados no passado se faziam realidade, e brotavam cheios de emoção e desejo ardente em busca do que se perdera até então.
Seus olhos buscavam-se incessantes, no anseio de registrar cada momento em suas memórias, para na ausência terem o que recordar. O calor e a reciprocidade que brotava de seus corpos emanava da alma, numa dança lírica e ardente como um bolero de Ravel.
Amaram-se ardorosamente. Amaram-se como nunca antes haviam se amado, amaram-se com amor e maturidade, no sentido mais amplo e pleno de seu significado.
Ao repousar na sensação de paz de fim de guerra dessa batalha onde não havia derrotados; Estela aconchega-se nos braços de Juan e entrega-se aos seus devaneios. E se tivesse feito diferente no passado? E se tivesse revelado seus sentimentos, deixado que ele descobrisse a verdade sobre seu amor, lutado por ele, pedido para ele ficar, teria feito diferença no destino?
Se tivesse sido insana e egoísta, ao invés de pensar nele, teriam ficado juntos?
Talvez não... Por mais que ela soubesse no passado que ele também a amava, sabia com a mesma relevância que ele não estava preparado para ficar com ela. Talvez nem mesmo ela estivesse.
Preferiu aceitar a ausência de seu amor e tentar seguir sua vida, tentando curar suas mazelas em outros braços, na busca dos abraços de Juan.
Juan por sua vez também sofreu. E também se resignou pela perda de Estela, e assim como ela, tentou ser feliz com outra pessoa, mesmo que em seu âmago soubesse que ela era a pessoa certa.
E o que era incerteza, virou constatação. O que era devaneio e lembrança afetiva virou fato e abalou a realidade. O que estava quieto acordou como a fúria avassaladora de um vulcão adormecido.
Ambos estavam irremediavelmente ligados novamente. Era irrefutável o amor entre eles, embora que tardio, mas não menos importante e nem tampouco menor que no passado.
De certa forma, foi melhor assim. Pois os anos servem para amadurecer as pessoas e os sentimentos. Hoje eles sabem o que realmente sentem, e embora tenham que lidar com os obstáculos do presente, sabem também que essa descoberta lhes fortalecerá e lhes dará força para enfrentar o que o destino lhes impuser .
Juan fala algo e Estela subitamente volta à realidade daquele momento sublime. Entre olhares cheios de contemplação, um beijo sela de vez suas reminiscências e a transporta novamente para aquela doce realidade.
E num fechar de olhos, reascendem novamente seus desejos incessantes, ao som imaginário de um bolero de Ravel.

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