15/07/2009

Orelhinha e Cotonete

Orelhinha está deitada, largada de tudo e acompanha tudo o que acontece em sua volta só mexendo as grandes bolinhas de gude pretas que tem no lugar dos olhos.
Orelhinha é calma, paciente, robusta, amável e zen. A versão canina do marido.
Orelinha demonstra ciúmes quando o carinho é dado primeiro pro Cotonete. Dando uma patada na minha mão, como se dissesse: Ei, as damas primeiro!!!

Cotonete está deitado ao lado de Orelhinha com a cabeça apoiada em suas costelas, seu travesseiro preferido. Acompanha tudo que acontece levantando a cabeça e suas orelhas de morcego rapidamente ao menor sinal de qualquer coisa com seus olhinhos de jabuticaba.
Cotonete é agitado, estressado, ativo e muito devoto aos seus afetos. A versão canina dessa que vos fala.
Cotonete demonstra ciúmes quando o carinho é dado primeiro à Orelhinha. Dando dentadas nas patas da coitada e pulando e chorando como se dissesse: Ei! Eu cheguei primeiro nessa casa!!
Orelhinha é minha Boston Terrier de 3 anos que também atende pela alcunha de Jolie.
Cotonete é meu Chiwawa de também 3 anos que igualmente atende pela alcunha de Yuki.
Seus apelidos nasceram pelas incessantes demonstrações de amor, carinho e companheirismo desses dois filhos postiços.
Enquanto Jolie está deitada, Yuki lambe suas orelhas, dá um banho de gato no rosto dela e a deixa completamente entregue, já que ela adora.
Esse ritual acontece todos os dias, a qualquer momento, no castelo aramado bem espaçoso vulgarmente chamado de canil, que fica na casa amarela de portas e janelas brancas, de uma rua movimentada em algum lugar do Japão.

Um comentário:

  1. Com um salto, esquivou-se mesmo a tempo.
    - Idiota - pensou - condutor de domingo, nem vê as passadeiras...
    E era bem verdade; atravessar a rua numa passadeira já não era tão seguro como antes... nem aos dias de semana, nem aos fins de semana. Também era verdade que muitas das passadeiras só o eram de nome, porque as listinhas brancas já tinham mudado de cor há muito tempo - branco sujo, branco muito sujo, cinzento e depois... preto. Ou seja, zero, nada de passadeira.
    Continuou tranquilamente ao longo do passeio, quase vazio de transeuntes. Aos sábados de manhã, o panorama era sempre o mesmo. Antes das nove, as ruas permaneciam desertas, o comércio fechado, o estacionamento dos taxis reduzido a um único exemplar sem clientes. O unico movimento girava em torno da padaria.
    O cheiro a pão quente transbordava porta fora e obrigava a um desvio estratégico; ou entrar... ou fugir rápidamente.
    Ao fundo da rua, nova esquina, nova passadeira, desta vez vazia.
    A pequena loja da sra Marquita abria as portas nesse mesmo momento. A proprietária, teimosamente a lutar contra a idade da reforma, lá ia colocando os caixotes com a fruta e os legumes, no exterior, para atrair a clientela. A seguir foram as batatas e as cebolas e numa pequena mesa, ainda se conseguiu arranjar espaço para uns frascos com calda de pimentão - uma delicia caseira de produção própria que conquistara clientes fiéis ao longo dos anos. Mesmo na porta ao lado, o sr Manuel subia os estores metálicos da porta do Café Central.
    Desviou-se a tempo de levar um valente encontrão. O sr Manuel, mesmo com os óculos, era um míope incorrigivel e não valia a pena medir forças no embate - o sr Manuel, com aquele peso, levava sempre a vitória assegurada.
    O sol radioso convidava ao passeio matinal.
    Em passo de corrida miudinho, duas raparigas ultrapassaram-no, vestidas a rigor para o jogging diário. Dirigiam-se, tal como ele, para o jardim - era habitual vê-las por lá, correndo por entre os obstáculos da pista de manutenção.
    Não tinha pressa. Se havia coisas que lhe davam especial prazer, percorrer a distância da praça principal até ao jardim - ainda por cima, sempre a descer - era uma delas, principalmente aquela hora da manhã, com céu azul e um sol que, apesar de Fevereiro, já aquecia.
    - O caminho da volta é sempre pior - lembrou-se.
    Cruzou-se com o homem do quiosque das revistas, que àquela hora, levava sempre o seu cão a passear - mas nunca ao jardim. O cão, um belo pastor alemão com um pelo negro brilhante, ainda lhe lançou um ar desconfiado, mas seguiu tranquilamente o seu caminho.
    Melhor assim. Nunca simpatizara em particular com os pastores alemães.
    Uns minutos, três esquinas e muitas passadeiras depois, chegou aos portões do jardim.
    Dois velhotes, as duas raparigas do jogging e um gato vadio pareciam ser as unicas almas vivas por ali. - Os pássaros da gaiola e os patos brancos do lago não se incluiam nesta contagem.
    Deteve-se, observando com atenção tudo o que o rodeava.
    Uma vontade súbita fê-lo recordar que existiam certas necessidades fisiológicas básicas que necessitavam de ser satisfeitas.
    Olhou novamente.
    Vagarosamente, aproximou-se de uma árvore já bastante velha, mesmo junto do lago dos patos.
    Com um equilibrio resultante de muitos anos de prática, levantou a pata e regou a árvore.
    Espreitou para confirmar se o guarda do parque não estaria por ali perto, a vigiar.
    Não. A costa estava livre.
    Era mais forte que ele.
    A tentação do perigo.
    Sorrateiramente, dirigiu-se até ao poste de madeira que, bem junto da entrada do parque, sustentava o aviso de que " Não são permitidos animais sem coleira "
    Ninguém à vista.
    Desta vez, primeiro a pata esquerda. Mais um esguincho . Depois, a pata direita. Novo esguincho.
    - Missão cumprida... podemos voltar ao aconchego do lar... o dono já deve estar a estranhar a ausência...

    ( E então? É mais parecido com Yuki ou Jolie?)
    Beijos

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